A maior parte de nós ainda nem
acordou verdadeiramente deste sonho que foi a conquista de um grande título
internacional por parte da equipa mais representativa da Federação Portuguesa
de Futebol. Nós não estamos habituados a estas coisas e por isso ainda nos
custa a acreditar que a selecção das quinas foi a vencedora do Euro 2016 e
trouxe o troféu Henri Delaunay para Portugal.
A selecção principal da
Federação Portuguesa de Futebol é claramente uma embaixadora de Portugal no
mundo e isso já foi visível em diversas outras competições internacionais
disputadas anteriormente. Desde o Euro 96 em Inglaterra que Portugal se tem
vindo a afirmar como uma das melhores equipas do futebol Europeu e Mundial,
tendo apenas falhado a qualificação para o Campeonato Mundial de 1998, curiosamente
também ele disputado em França. Este conjunto de qualificações, associadas a um
conjunto de boas performances nessas mesmas competições, criou nos últimos
vinte anos um sentimento de pertença e de empatia de todos os portugueses
residentes em Portugal e no estrangeiro com a selecção das quinas e a
Portugalidade.
O expoente máximo dessa
empatia foi atingido durante o Euro 2004 e esse facto foi claramente visível
quando da viagem da equipa desde a academia de Alcochete até ao Estádio da Luz
para a disputa da final da competição frente à selecção helénica. Nesse dia, milhares
de portugueses fizeram um autentico “corredor humano” de apoio à selecção, algo
nunca visto e que marcou a história do futebol em Portugal.
Este ano as coisas foram
bastante diferentes, o seleccionador nacional definiu um objectivo claro (algo
que não costuma acontecer muito em Portugal pois por norma por cá ninguém sabe
muito bem quais são os objectivos das coisas), esse objectivo era chegar à
final, a estratégia de divulgar o objectivo publicamente comprometeu o grupo e a
partir desse momento ninguém podia “lavar as mãos” e dizer que não sabia que a
equipa só teria sucesso na prova se conseguisse atingir a almejada final.
Como disse o “enfant terrible”
Eric Cantona, a final da competição teve todos os ingredientes de uma
verdadeira “tragédia dos tempos modernos”, foi como que uma verdadeira epopeia.
Primeiramente, tal como uma das 10 pragas bíblicas o campo de jogo foi invadido
por milhares de borboletas (traças) que ninguém sabe de onde vieram, depois o “grande
herói nacional” é lesionado por um oponente e sai em lágrimas deixando de poder
dar o seu contributo à equipa, posteriormente “ressuscita” na pele de um
efusivo treinador-adjunto incentivando e ajudando a orientar a sua equipa a
partir da linha lateral. Para finalizar esta história alucinante, a partida
termina após um golo marcado aos 109 minutos por um herói improvável.
Em jeito de brincadeira
gostava de dizer que penso seriamente que este feito desportivo é “merecedor de
uma petição pública” para que seja acrescentado um XI canto aos Lusíadas de
Luís Vaz de Camões.
Numa reflexão mais
profissional gostava de vos dizer que este título é fruto de anos de trabalho
de toda a estrutura do futebol português, este título é dos pequenos clubes
locais, dos clubes de maior dimensão e das associações distritais que são
membros da Federação Portuguesa de Futebol. Pois quem olhar para os 23
jogadores seleccionados para o Euro 2016 facilmente verifica que que quase
todos os jogadores se iniciaram em pequenos clubes desportivos locais, dos
Açores à Madeira, passado por Leiria, Póvoa do Varzim, Amarante, Penafiel e
Mirandela. Por isso a Coupe D’Europe,
o Troféu Henri Delaunay, a Taça do Campeonato Europeu UEFA Euro 2016, é de
todos os que, directa e indirectamente, contribuíram um pouco por todo o país
para que estes jovens atletas tivessem a oportunidade de desenvolver o seu
talento.
Obrigado Portugal
Saudações Desportivas
Paulo Jorge Araújo
Artigo publicado in "Revista Raizes" em Agosto de 2016
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