domingo, 12 de março de 2017

A Selecção Nacional e a Portugalidade



Portugal é Campeão da Europa, a selecção portuguesa derrotou por 1-0 a selecção francesa, em Paris, na Final do Campeonato Europeu de Futebol sénior masculino que se realizou em terras gaulesas entre os dias 10 de Junho e 10 de Julho de 2016.

A maior parte de nós ainda nem acordou verdadeiramente deste sonho que foi a conquista de um grande título internacional por parte da equipa mais representativa da Federação Portuguesa de Futebol. Nós não estamos habituados a estas coisas e por isso ainda nos custa a acreditar que a selecção das quinas foi a vencedora do Euro 2016 e trouxe o troféu Henri Delaunay para Portugal.

A selecção principal da Federação Portuguesa de Futebol é claramente uma embaixadora de Portugal no mundo e isso já foi visível em diversas outras competições internacionais disputadas anteriormente. Desde o Euro 96 em Inglaterra que Portugal se tem vindo a afirmar como uma das melhores equipas do futebol Europeu e Mundial, tendo apenas falhado a qualificação para o Campeonato Mundial de 1998, curiosamente também ele disputado em França. Este conjunto de qualificações, associadas a um conjunto de boas performances nessas mesmas competições, criou nos últimos vinte anos um sentimento de pertença e de empatia de todos os portugueses residentes em Portugal e no estrangeiro com a selecção das quinas e a Portugalidade.

O expoente máximo dessa empatia foi atingido durante o Euro 2004 e esse facto foi claramente visível quando da viagem da equipa desde a academia de Alcochete até ao Estádio da Luz para a disputa da final da competição frente à selecção helénica. Nesse dia, milhares de portugueses fizeram um autentico “corredor humano” de apoio à selecção, algo nunca visto e que marcou a história do futebol em Portugal.

Este ano as coisas foram bastante diferentes, o seleccionador nacional definiu um objectivo claro (algo que não costuma acontecer muito em Portugal pois por norma por cá ninguém sabe muito bem quais são os objectivos das coisas), esse objectivo era chegar à final, a estratégia de divulgar o objectivo publicamente comprometeu o grupo e a partir desse momento ninguém podia “lavar as mãos” e dizer que não sabia que a equipa só teria sucesso na prova se conseguisse atingir a almejada final.

Como disse o “enfant terrible” Eric Cantona, a final da competição teve todos os ingredientes de uma verdadeira “tragédia dos tempos modernos”, foi como que uma verdadeira epopeia. Primeiramente, tal como uma das 10 pragas bíblicas o campo de jogo foi invadido por milhares de borboletas (traças) que ninguém sabe de onde vieram, depois o “grande herói nacional” é lesionado por um oponente e sai em lágrimas deixando de poder dar o seu contributo à equipa, posteriormente “ressuscita” na pele de um efusivo treinador-adjunto incentivando e ajudando a orientar a sua equipa a partir da linha lateral. Para finalizar esta história alucinante, a partida termina após um golo marcado aos 109 minutos por um herói improvável.

Em jeito de brincadeira gostava de dizer que penso seriamente que este feito desportivo é “merecedor de uma petição pública” para que seja acrescentado um XI canto aos Lusíadas de Luís Vaz de Camões.

Numa reflexão mais profissional gostava de vos dizer que este título é fruto de anos de trabalho de toda a estrutura do futebol português, este título é dos pequenos clubes locais, dos clubes de maior dimensão e das associações distritais que são membros da Federação Portuguesa de Futebol. Pois quem olhar para os 23 jogadores seleccionados para o Euro 2016 facilmente verifica que que quase todos os jogadores se iniciaram em pequenos clubes desportivos locais, dos Açores à Madeira, passado por Leiria, Póvoa do Varzim, Amarante, Penafiel e Mirandela. Por isso a Coupe D’Europe, o Troféu Henri Delaunay, a Taça do Campeonato Europeu UEFA Euro 2016, é de todos os que, directa e indirectamente, contribuíram um pouco por todo o país para que estes jovens atletas tivessem a oportunidade de desenvolver o seu talento.



Obrigado Portugal

Saudações Desportivas

Paulo Jorge Araújo


Artigo publicado in "Revista Raizes" em Agosto de 2016