segunda-feira, 26 de maio de 2008
Directores Desportivos e o Sucesso....
O sucesso de um clube de futebol não depende seguramente dos caprichos megalómanos de um presidente mais ou menos autocrático, das opiniões de um grupo de personalidades mais ou menos preocupadas, ou das decisões de alto risco de um qualquer treinador mais ou menos carismático. Claro que também não está nas entradas e saídas de administradores mais ou menos ligados ao clube ou, no perfil de qualquer director desportivo mais ou menos diplomado na academia ou na escola da vida como agora parece estar na moda advogar. Assim sendo, não chega ter uma fortuna de alguns milhões de euros num paraíso fiscal, conhecer o “cheiro do balneário” de diversos clubes, proclamar uma fidelidade eterna ao emblema amado, ou possuir uma meia dúzia de diplomas universitários pendurados na parede, para garantir aos apaniguados as vitórias que eles tanto desejam.
O sucesso de um clube resulta de um conjunto de decisões interdependentes do ponto de vista desportivo, social, económico e financeiro, realizadas em função das particularidades do clube em si e do quadro extra-desportivo que o condiciona. Quer dizer, o sucesso do clube depende da capacidade de racionalizar as escolhas que em matéria de política desportiva hão-de preencher o vazio entre a situação desportiva existente e aquela que se deseja atingir. A não ser assim, qualquer director desportivo, tal como hoje muitos treinadores, acabará pateticamente a falar do vazio que é o clube.
Em conformidade, a política desportiva de um clube deve estar sustentada numa verdadeira gestão do conhecimento que, desde o departamento de formação até à direcção, passando pelos diversos departamentos da linha, da tecnoestrutura e da logística, garanta que, a partir do plano global que traduz a estratégia do clube, tudo se projecte com efeitos sinergísticos naquilo que é o seu “core business”, quer dizer, a produção da equipa principal. A gestão do conhecimento corporiza todo um conjunto de atitudes, comportamentos e práticas conducentes ao apuramento dos mais diversos dados que, uma vez tratados, são transformados em informação que, depois de integrada pelos vários especialistas num projecto comum, produz o conhecimento que deve sustentar os processos de tomada de decisão. Esta constatação, leva-nos a considerar que os clubes de sucesso são geralmente entidades aprendentes capazes de produzir e gerir conhecimento.
O problema é que, salvo raras excepções, os clubes aprendem muito pouco. Na realidade, a cultura dos clubes está ligada ao curto prazo, ao provisório, à moda, aos mais diversos lóbis, à gestão por impulsos e ao desenrascanso. Em conformidade, é raro da parte dos seus presidentes, assistirmos a um discurso simples e claro, sustentado num credo, numa visão e numa missão consubstanciada em projectos idealizados não só para responder ao curto prazo como, também, para resolver as questões que se colocam no tempo longo, independentemente das circunstâncias que caracterizam o ambiente de competição exclusiva que é o do futebol das ligas.
Entretanto, perante o estado de desespero organizacional em que se encontram alguns clubes, de há uns anos a esta parte, a figura do director desportivo tem vindo a ser atirada para os mídia, como se fosse a pedra filosofal que resolverá todos os problemas. Contudo, nenhum director desportivo resolverá seja o que for, na medida em que qualquer clube só integrará soluções de futuro a partir do momento em que tiver resolvido os problemas do presente. Só por si, um director desportivo, no quadro actual de funcionamento da maioria dos clubes portugueses, com grande probabilidade, acabará por ser mais um foco de problemas na medida em que ou vai repetir e multiplicar os problemas criados pelo presidente, ou entra em conflito com o próprio presidente. Porque, salvo raras excepções, o maior problema que os clubes têm são os respectivos presidentes. Não por eles em si, mas pela cultura de gestão que os envolve e que eles, não querem, não podem ou não são capazes ultrapassar.
Por: Gustavo Pires in Semanário Transmontano - Edição de 01-02-2008.
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