sexta-feira, 6 de maio de 2016

Existe holiganismo no desporto Infanto-Juvenil?


A resposta a esta questão é no meu ponto de vista bastante simples, pois na minha perspetiva não existe hooliganismo nenhum, existe sim é uma tremenda falta de educação, particularmente e neste contexto falta de “educação desportiva”.

Esta minha crónica vem no seguimento de um artigo que li recentemente no site “observador.pt” e que dizia que existem muitos pais hooligans no desporto infanto-juvenil, descrevendo diversas situações reais, negativas e hilariantes relativas ao comportamento de alguns dos pais no desporto.
Não é totalmente verdade que existam pais hooligans no desporto infanto-juvenil, existem sim alguns pais que não se sabem comportar como deve ser porque durante a sua infância e juventude foram muito mal formados no que ao desporto diz respeito. Na verdade, muitos nem sequer estiveram enquadrados em qualquer sistema que lhe proporciona-se prática desportiva, quanto mais uma “educação desportiva”.

Existem também alguns pais que apesar de terem dito sucesso desportivo enquanto praticantes não assimilaram valores fundamentais do desporto e manifestam um profundo ressentimento pelos filhos não conseguirem alcançar feitos idênticos aos seus.

Normalmente, as pessoas que tiveram vivências desportivas positivas, foram bem orientados e educados, sabem-se comportar muito bem e dão um suporte muito bom aos seus filhos passando-lhe valores fundamentais para terem sucesso na vida e no desporto.

Infelizmente, no mundo do treino e da competição que envolve crianças e jovens são detetadas situações extremamente negativas decorrentes de comportamentos e atitudes por parte de alguns pais que acabam por provocar danos significativos aos seus próprios filhos. Segundo o Professor Vasconcelos Raposos (2006), a generalidade desses comportamentos encontra-se associada a fortes pressões para que as crianças e os jovens vençam as competições em que participam, a posições de um permanente criticismo relativamente a tudo que os filhos fazem e a uma desvalorização do que de bom as crianças e jovens conseguem realizar nos treinos e nas competições.

Felizmente é também uma realidade, que nos deixa a todos muito satisfeitos, que a maioria dos pais apoia e acompanha de forma positiva os seus filhos, o que os torna no verdadeiro epicentro de suporte ao desenvolvimento desportivo, quer no clube quer na pratica do desporto em geral.
No que diz respeito aos resultados desportivos, alguns estudos tem apresentado conclusões muito interessantes quanto à influencia dos pais nos resultados alcançados pelos filhos, o que nos faz compreender o importante papel familiar e que de certa forma acaba por determinar o posicionamento dos jovens perante o desporto.

Estes estudos são oriundos dos Estados Unidos da América e um deles consistiu em criar dois grupos de jovens e atribuir tarefas a esses grupos que desempenhavam as mesmas na presença dos pais. Num dos grupos os pais eram tensos, exigentes e imponham as suas ideias aos jovens interferindo constantemente com eles. No outro grupo os pais eram tranquilos, encorajavam os filhos, brincavam e apresentavam sugestões, dando total apoio às soluções apresentadas pelos filhos. O resultado deste estudo indicou que os jovens do segundo grupo foram os que apresentaram um progresso mais significativo e mantiveram uma motivação mais elevada perante o aumento do grau de dificuldade das tarefas que lhes foram sendo apresentadas.

Em jeito de conclusão dizer que na minha opinião o fenómeno do hooliganismo não tem expressão no desporto infanto-juvenil, o que existe é sim é falta de “educação desportiva”. Esta “educação desportiva” deverá ser implementada pelos clubes desportivos, federações etc. mas deveria ser principalmente assumida como um “autêntico desígnio nacional” pelo Ministério da Educação que deveria substituir a já velhinha e ultrapassada disciplina Educação Física pela disciplina de “Educação Desportiva” cujo objetivo seria transmitir aos alunos uma cultura desportiva, que lhes permita praticar mas também conhecer verdadeiramente o desporto, a sua história e os seus valores, preparando as pessoas para os diferentes papeis ligados com o desporto: praticantes, atletas, treinadores, dirigentes, árbitros, espectadores, investidores e pais.

Sim pais, porque nas palavras do treinador Mike Krzyzewski (também conhecido por Coach K) da poderosa Universidade de Duke e antigo selecionador de Basquetebol dos EUA: “os pais podem realmente ajudar, mas eles também podem prejudicar o desenvolvimento dos seus filhos”.


quinta-feira, 5 de maio de 2016

O que é o Desporto?


Parece fácil responder a esta pergunta, mas não é. Parece fácil porque o Desporto, mais especificamente o “espectáculo desportivo”, chega actualmente até nós através de diversos dispositivos tecnológicos que nos permitem assistir em tempo-real a diversas competições desportivas, saber os resultados desportivos e conhecer os grandes protagonistas. No início eram basicamente os jornais, posteriormente veio a rádio, depois a televisão e actualmente a internet é um dos grandes meios de divulgação do “espectáculo desportivo”.
Aparentemente o Desporto, para o comum dos mortais, é apenas e só o “espectáculo desportivo”, mas o Desporto é bem mais vasto do que a indústria do “espectáculo desportivo” que diariamente “entretém” milhares de pessoas em todo mundo e gera biliões de euros em receitas.

O sistema desportivo é um “guarda-sol gigante” que contem diversos sectores desportivos: sector escolar, sector federado, sector militar, sector universitário, sector do turismo, sector do trabalho (INATEL), sector do desporto para populações especiais, sector autárquico e o sector prisional. O “espectáculo desportivo” que invade as nossas casas diariamente, corresponde fundamentalmente ao sector do desporto federado e dentro deste a um grupo muito restrito de competições entre federações, clubes, equipas e atletas de alto-rendimento.

Na minha opinião e após 20 anos dedicado a esta área (1996-2016): o desporto é o mais fantástico fenómeno da humanidade. Mas esta minha opinião, algo filosófica, define o conceito de Desporto ou diz-nos concretamente o que é o Desporto? A resposta é não. Saber e entender o que é o Desporto requere estudo, felizmente existe um conjunto de pessoas fantásticas que se dedica a estudar o Desporto em várias instituições de ensino credíveis deste nosso Portugal. Sim, porque algumas das nossas instituições de Ensino Superior na área do Desporto já ajudaram a produzir algumas mas mais fantásticas mentes do desporto nacional e internacional actual.

A resposta à questão “que é o Desporto?” leva-nos fundamentalmente à necessidade de perceber e definir o conceito de Desporto.

Citando Paulo Araújo & Pedro Rodrigues (2004), segundo a bibliografia não existe ainda uma definição universalmente aceite em relação ao desporto, por exemplo a definição Norte Americana caracteriza desporto como:

- Actividade que requer uma complexidade de capacidades físicas e exercício físico vigoroso.
- Envolve organização e regulamentação da competição.
- Ao mesmo tempo que é organizado e estruturado segundo regras bem definidas mantêm uma ligação muito forte com a liberdade e espontaneidade.
O sentido de institucionalização competitiva, regras formalizadas distingue claramente os desportos de elite do exercício físico esporádico como o jogging, o skate, os passeios de bicicleta que se fazem ao fim de semana. “(…)” As actividades informais são designadas na América do norte como recreação” .

O Conselho da Europa em 1992 definiu Desporto como:
“(…)”Todas as formas de actividade física, formais ou informais, que visam a melhoria das capacidades físicas e mentais, fomentam as relações sociais, ou visam obter resultados na competição a todos os níveis” .
Claramente existem na actualidade duas correntes no ocidente relativamente ao conceito de Desporto. A definição Europeia não distingue desporto profissional de desporto não profissional, basicamente todas as formas de exercício físico são referidas como desporto, os autores Americanos não concordam muito com a definição usada na Europa, mas os Europeus também não concordam muito com a definição Norte Americana.

O Professor Gustavo Pires da Faculdade de Motricidade Humana em Lisboa e da Faculdade de Desporto do Porto, na sua vasta bibliografia, faz referências a várias definições deDesporto segundo variados autores, sendo algumas as seguintes:

Coubertin, Pierre (1934): “(…)” o desporto é um culto voluntário e habitual de exercício muscular intenso suscitado pelo desejo de progressão e não hesitando em ir até ao risco”;
Dicionário Larousse: “(…)”pratica metodológica de exercícios físicos com a finalidade de aumentar a força, a destreza e a beleza do corpo”.

Hébert, (1935): “(…)”o desporto é “todo o género de exercícios ou de actividades físicas tendo por fim a realização de uma performance e cuja execução repousa essencialmente sobre um elemento definido: ma distância, um tempo, um obstáculo uma dificuldade material, um perigo, um animal, um adversário e por extensão, o próprio desportista”.

Gillet, Bernard (1949): “(…)”resumidamente diz que o desporto é uma actividade física intensa, submetida a regras precisas e preparada por um treino físico e metódico”.

Huizinga (1951): “(…)”no seu, já célebre livro Homo Ludens, Essai sur la Fonction Social du Jeu definiu jogo da seguinte maneira: jogar é uma actividade ou ocupação voluntária executada dentro de determinados limites de tempo e de lugar de acordo com regras livremente aceites, mas absolutamente obrigatórias tendo o seu objectivo em si próprio, e sendo acompanhado por um sentimento de tensão, alegria e consciência de que isso é diferente da vida normal”.

Para o Professor Gustavo Pires decorre de todas estas e de outras definições que desporto envolve: “(…)”exercício físico, competição, desafio, esforço, luta, apetrechos, estratégia, e táctica, princípios, objectivos, instituições, regras, classificações, tempo livre, jogo, vertigem, aventura, investigação, dinheiro, lazer, sorte, rendimento, simulação, códigos, resultados, prestações, treino, força, destreza, meditação, tempo, espaço, beleza, medição, voluntarismo, morte, etc.”.

Em jeito de conclusão, dizer-vos que embora não haja uma definição universalmente aceite em relação ao que é o Desporto esta divide-se em duas correntes no ocidente e visto que o Desporto da Era Moderna surgiu na Europa após a Revolução Industrial, penso que a definição proposta pelo Conselho da Europa em 1992 é aquela que está de acordo com a nossa realidade. Devo também dizer-vos, visto que isto é um artigo de opinião, que para mim e segundo as minhas reflexões e convicções eu identifico-me mais com a definição Norte Americana que faz claramente a distinção entre Desporto e Recreação.